Sou brasileiro, mas também sou português (há muito que me naturalizei). Daí que sou o primeiro a concordar com a ideia de que o Brasil não é, boa parte das vezes, um país sério. Já Portugal é diferente. Portugal é seríssimo. Quase sempre sério até de mais.
Às vezes é de uma seriedade que beira o absurdo. Está aí: o absurdo sempre me interessou. Deve ser por isso que sempre admirei o trabalho de Ionesco, o pai do teatro do absurdo. Há um “quê” de Ionesco em Portugal.
É assim na vida. E também nos meandros do marketing e da publicidade.
Se há alguns anos trabalhar nessas áreas era sinónimo de se fazer algo interessante e até mesmo divertido, hoje nada mais é (via de regra) uma coisa razoavelmente maçadora.
Há muita gente por aí a levar-se demasiado a sério. A encarar cada anúncio com a boa disposição de um cientista com enxaqueca. Como se o mundo dependesse daquilo. Como se a antipatia e a sisudez fossem grandes ferramentas de vendas.
Há por aí campanhas com uma memória descritiva que mais parece a bula de um remédio. Trabalhos que foram testados e re-testados até ficarem pasteurizados. Muito sérios e muito certos. Só que sem nenhuma chama ou graça.
Não é preciso ser assim. Não é bom que seja assim. É um absurdo que seja assim.
Fui conversar com o meu Tio Olavo para ver o que ele acha do tema.
Tio Olavo, qual é sua visão do mercado publicitário actual?
É como o mundo em geral: está se tornando um hospício dirigido por loucos.
É também o caso de Portugal?
O problema não é Portugal parecer cada vez mais um vasto hospício. O problema é que anda a faltar remédios.
Defina-me a loucura.
A loucura é o sonho de uma pessoa. A razão é a loucura de todos.
E os loucos?
Um louco é alguém que crê em tudo que vem à sua mente.
A loucura é uma coisa assim tão má?
Nem sempre. Mais vale um homem que expõe a sua loucura do que um que esconde a sua sabedoria.
Acha que muito do que anda a escrever por aí nos jornais é uma amostra de loucura?
Sim. Ou de burrice. Para qualquer burrice que você escreva encontrará sempre um burro para dar apoio.
E o senhor não é apenas mais um exemplo?
De certa maneira. Mas isso não é um problema. Toda gente é meio burra, só que em assuntos diferentes.
Mas o senhor tem a mania de que é um intelectual.
E daí? Já está provado: se você cortar a cabeça de um intelectual quase sempre ele morre.
Autor: Edson Athayde
In MktOnline
Bom artigo. E desta vez com leitura finalmente.
Mas concordo com essa ideia que somos demasiados sérios. Falta-nos a alegria e atrevimento alegre. Para mim é do sistema já muito viciado.
Quem tem a massa nem sempre tem capacidade de compreender o rumo que muitas das vezes as coisas “pedem” para ter. E assim somos levados a seguir como nos “exigem” por vezes que seja. Tipo: “Sim está bonitinho mas assim eu gosto mais… faça assim para eu aprovar.”
Enfim…